domingo, 10 de outubro de 2021

Curiosidade: As Faces da Cosmogonia Gnóstica

Hello everyone! Trazendo um novo post de curiosidades, dessa vez um que estive discutindo recentemente pelas vielas do facebook, "as origens cósmicas do gnosticismo". Bom, naturalmente esse post ficaria enorme se eu fosse atrás de toda versão do "mito" do alvorecer dos tempos, por isso optei em focar apenas em duas versões do mesmo. Espero que gostem, e lembrem-se, é apenas um post de curiosidades, não estou aqui para pregar qualquer aspecto religioso.





O Deus Supremo Verdadeiro é Bythos (Profundidade) uma fonte eterna de Luz que é a fonte do Pleroma (a totalidade dos poderes divinos). Deste Pleroma, surgiram o Pai de Todos (Adão) e o Espírito Santo (que para eles era a Primeira Mulher). Da união dos dois, surgiu Ennoia (Sentido, o Segundo Homem). Os sentidos são um caminho para o Conhecimento na cosmogonia Ophita. Os três viviam sobre as Águas do Caos, sobre o Abismo.

O Espírito Santo era uma mulher tão bela que o Primeiro e o Segundo Homem se apaixonaram por ela. Da união dos três, surgiu um terceiro poder masculino, uma Luz Incorruptível que é ao mesmo tempo Cristo e Lúcifer. Mas o Espírito Santo ficou impregnado com tamanho excesso de Luz que era mais do que ela podia conter, e enquanto Lúcifer-Cristo nasceu por sua mão direita, uma gota de luz caiu nas águas abaixo, e essa gota de luz foi chamada SOPHIA (Sabedoria) e dela é composta todos os Espíritos dos seres humanos. SOPHIA é uma Prunikos¹, um ser Andrógino.

Quando caiu nas Águas, Sophia viu que tudo nas águas se moveu em sua direção em busca de sua luz, e ela se apavorou pelo perigo da Luz ser totalmente absorvida pela matéria. Ela então escapou das águas em direção à sua mãe, porém sua tentativa de sair das águas formou o Céu. A intensidade de seu desejo de deixar a matéria, no entanto, deixou uma impressão nas águas, e formou um ser separado, Ialdabaoth, o Demiurgo.

Usando uma fração da Luz incorruptível deixada por sua mãe, este criou o Mundo Material e aprisionou os Espíritos (A Luz) em corpos físicos. Ele também criou filhos que são os Arcontes (Guardiães) da Criação Material, os Planetas. Ialdabaoth pode ser lido como de Yalda Bahut = o Filho do Caos.
Seus filhos são Iao, Sabaoth, Adonaios, Elaios, Astaphanos e Horaios. São os sete planetas, junto com Ialdabaoth que é Saturno. No entanto a Luz de Sophia dentro dos humanos formou também um filho, Ophiomorphus, o Nous² em forma de Serpente; ele é a união de Corpo, Alma e Espírito. Vendo o potencial de Ophiomorphus, Ialdabaoth fechou o sétimo céu e gritou "Eu sou o Pai e Deus e acima de mim não há outro".

Ouvindo isso, sua mãe Sophia gritou: "Não minta, Filho do Caos, pois acima de ti existe o Pai de Todos, o Primeiro Homem, e o Filho do Homem."

Ialdabaoth então criou para o homem uma distração, Eva, e mentiu que ela era a Primeira Mulher. Através de Eva os filhos de Ialdabaoth, os Planetas, geraram os Anjos. Porém Sophia queria libertar sua Luz no Homem, Ophiomorphus, e então ela enviou o Filho do Homem, na forma da Serpente, forma semelhante ao Nous, para iluminar Adão e Eva com o verdadeiro conhecimento. Ialdabaoth então expulsou Adão e Eva do Paraíso, mas a Serpente convenceu alguns Anjos a lutar ao seu lado, e com eles teve sete filhos, que são Sete Demônios Planetários, que sempre atrapalham a humanidade quando esa tenta obedecer Ialdabaoth.

Sophia, não podendo descansar enquanto não resgatasse sua Luz, pediu ajuda ao Espírito Santo, sua mãe; e ela enviou para a Terra Cristo, em forma de Luz, e essa Luz entrou em um homem chamado Jesus que fez Milagres, anunciou um Pai Desconhecido, e se declarou Filho do Homem. Então Ialdabaoth fez com que ele fosse Crucificado, mas crucificou apenas o homem Jesus, e o Cristo escapou. O Cristo então transformou o corpo de Jesus em corpo de Luz.

Esse Jesus senta na Mão Direita de Ialdabaoth, resgatando todas as almas que vão para Ialdabaoth; elas são unidas com Jesus e assim enfraquece Ialdabaoth que não pode se alimentar da Luz. Enquanto isso, Cristo, na forma da Serpente e Lúcifer, tenta iluminar novamente a Humanidade para que volte para Sophia.

Essa é a Cosmogonia do Evangelho de Judas (Rasimus "The Serpent in Gnostic and Related Texts) e (John Turner The Place of Gospel of Judas in Ophite and Sethian Tradition).



No Gnosticismo, temos muitos sistemas diferentes, mas alguns dos mais antigos é o Valentiniano e o apresentado no Codex Nag Hammadi II. Se chama "A Origem do Mundo":

Deus, a Fonte, o Uno, vive no Infinito, com seus aspectos, suas "henads" como podemos percebê-las, uma delas, a mais próxima de sua semelhança, é Sophia, que surgiu de Pistis (Sabedoria e Fé). Sophia tinha o desejo de contemplar a Primeira Luz, mas a Primeira Luz é de uma grandeza incompreensível. Nisso, ela é muito parecida com o Nous Plotiniano.

O Uno não tem sombra porque sua infinita luz brilha em toda parte. Porém, existe uma sombra, que é o que habita entre os espaços das definições que Sophia tentava divisar. A essa Sombra, a infinita possibilidade, ela chamou de Caos. Ela conseguia emergir todas as deidades do Caos, as definindo com sua inteligência. Porém em algum momento, Sophia definiu o Caos como algo em si, e se tornou Abismo.

O Abismo então consciente, percebeu que existia algo maior que ele. Nisso o Abismo engravidou de um novo conceito - Inveja. Esse princípio não existia em nada fora do Abismo. Horrorizado, o Abismo abortou esse feto, sem nenhum espírito nele, e o feto flutuou como uma sombra em uma substância aquosa. Cheio de fúria, o feto flutuou no Caos. Isto é a Matéria, que não veio do Caos; ela estava sempre no Caos e se tornou visível com a sombra do feto. Pistis veio e apareceu sobre a matéria caótica, que tinha sido expelida como um feto abortado, sem espírito, em trevas indefinidas e águas profundas. Quando Pistis viu o que tinha surgido de forma deficiente, ficou perturbada. E essa pertubação ganhou forma e fugiu dela assustada no Caos. Pistis foi atrás, e soprou na face do Abismo, lhe dando espírito, por pena.

Ao dar espírito a esta coisa, Sophia lhe deu semelhança ao Divino, e governo sobre a Matéria e seus poderes. Pela primeira vez a coisa assumiu forma, uma forma leonina, andrógina, com grande autoridade, todavia ignorante de onde veio. Sophia então lhe disse "Jovem, venha até aqui." que é o significado de Yaldabaoth (não é não, mas deixa o autor achar que é). Desde então a faculdade da fala surgiu, e pertence a deuses, anjos e homens. Através da Palavra, Yaldabaoth, que é ignorante do poder de Pistis, pois não viu seu rosto, só viu seu reflexo na água, presumiu ser um reflexo de si mesmo e assumiu autoridade sobre a Matéria e a Água. Sophia retirou sua luz.

Yaldabaoth pensou que só ele existia. Então ele separou as águas e através da Palavra o Espírito voou sobre as águas e as separou. Da matéria ele criou um lugar para si e chamou de Céu, e das palavras criou seus filhos, sete filhos, sete planetas, e na Terra criou o homem.

Quando Pistis Sophia viu o que Yaldabaoth fez, ela disse "Você está errado Samael" que quer dizer 'Deus Cego'. Um dos filhos de Yaldabaoth, Sabaoth, viu Pristis em sua grandeza. Ele condenou seu pai e mãe, Yaldabaoth e o Abismo. Sabaoth então cria seus próprios Anjos, Israel, e Jesus, que se senta com ele no trono e guerreia com seu pai, Yaldabaoth. No final das contas, Sophia entra dentro de Jesus ou coisa assim, e tenta resgatar o Espírito presente nos homens, cujo corpo apenas é criação de Yaldabaoth.

Notas:
1. No sistema gnóstico descrito por Irineu, o nome Prunikos várias vezes toma o lugar de Sophia na relação de sua história. O nome Prunikos também é dado a Sophia no relato do sistema parente de Barbeliot, dado no capítulo anterior de Irineu.
2. Nous é um termo referido às vezes como intelecto ou razão, é um termo da filosofia clássica para a faculdade da mente humana necessária para compreender o que é verdadeiro ou real.

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