domingo, 3 de outubro de 2021

Curiosidade: Os medievais não tomavam banho?

Bem, assim começa minha primeira remessa de posts de conteúdos variados para podermos sair um pouco e puramente das traduções. Para começar, pensei em alguns posts referentes a curiosidades gerais e histórias, contudo pretendo expandir o leque para outros assuntos eventualmente. De toda forma, espero que gostem e voltando a temática...

Apesar de ser uma ideia que se espalhou com base em algumas problemáticas reais, não é exatamente verdade, e tão pouco foi o clima frio uma desculpa (na verdade banhos eram proibidos durante o verão). A aversão ao banho era pra todos efeitos, de cunho moral.

Para os pagãos, o banho era uma ação diária. Roma estava repleta de casas de banho, onde a grande maioria das pessoas frequentaria casas de banho público. As vezes, todos juntos na mesma banheira (apenas pessoas de alto status possuíam uma banheira particular). Porém, por este mesmo fator, as casas de banho acabaram por se tornar também casas de prostituição.


A Idade Média "herdou" do Império Romano todos os prédios públicos, banhos inclusos. A Igreja tinha algumas proibições morais quanto aos banhos por este motivo. Tomar banho era um ato de vaidade, um ato pagão, mas ao mesmo tempo, reconhecia-se já os benefícios do mesmo para saúde, de forma que certas permissões foram feitas:

Para os nobres: O banho deve ser protegido por cortinas, para não ser visto pelos ajudantes, e sempre em local de porta fechada. Não há restrições quanto ao número de banhos, contudo havia uma preferência por roupas limpas, que denotassem a posição social do que um corpo limpo, que denotasse vaidade. A roupa elegante não era vista como um ato de vaidade, mas como um símbolo de posição social necessário para hierarquia.

Para os pobres, cujo único recurso eram banhos públicos ou lagos: era preciso fazer jejum por três dias em pão e água ou peixe depois de tomar um banho, para se limpar do pecado venal da vaidade e sensualidade.

Para o clero, os monastérios tinham uma regra de permitir somente 4 banhos por ano, individuais (o que nos leva há alguns casos interessantes, como São Goderico, que foi da Inglaterra para Jerusalém sem trocar de roupa).

Dessa forma, por opção própria, a maioria dos pobres preferiam evitar e se limitavam a lavar as mãos e rostos.

Com relação ao banho em rios ou lagos, a proibição seguia por também ser considerado um ato de vaidade.

"Um corpo limpo e roupas limpas escondem uma mente impura. Aquele que se banhou em Cristo não precisa de um segundo banho. Isso é uma tentativa ímpia de melhorar o trabalho de Deus."
—Asceta Paula, aristocrata Romana cristã para as freiras do seu convento. Charles Freeman, The Closing of the Western Mind (Heinemann, 2002) P238.

Com a reforma, as regras morais se tornaram mais rígidas ainda e casas de banho foram fechadas por toda a Europa. Esse costume do banho só voltou quando convivemos mais com os índios nas "américas" e com o povo árabe. Sendo este um dos fatores para até hoje na Europa haver certa discrepância em nosso hábitos para a frequência dos banhos.


Detalhes Adicionais:
A. As casas de banho foram criadas pelos Romanos, porém os Árabes tinham casas iguais, e no mundo Árabe, havia a divisão para homens e mulheres. No Mundo Europeu o conselho era evitar as casas, não só por causa da questão sexual, como para evitar o banho em si como um ato de vaidade.
B. Outras regras de higiene porém eram totalmente permitidas - todos os nobres escovavam os dentes com pasta de mirra¹, entretanto esta pasta era cara demais para os pobres.



Notas:
1. Mirra é uma resina, da seiva de uma árvore, muito usada como incenso e como conservador de cadáveres porque ela 'seca' a carne. Possui propriedades antisséptica, antioxidante, bactericida, relaxante, antifúngica e anti-inflamatório (além de um cheiro bom).

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